Jurimetria, Visual Law e outras tendências.
Escrito por Rui CaminhaA única constante é a mudança.
Heráclito de Éfeso
Prepare-se para uma grande jornada. Você está se graduando ou é recém formado em um dos cursos de conhecimento mais antigo e tradicional da humanidade. Milhares de anos, códigos, leis e juristas vieram antes, pavimentando o caminho dessa profissão tão essencial à sociedade. Agora, chegou o momento de você contribuir com as suas próprias realizações e criar algo novo, deixando a sua marca nessa história milenar.
Você pode estar se perguntando como exatamente você vai “criar algo novo” em uma profissão que parece que tudo já foi dito, escrito, discutido, analisado, julgado, reescrito, reanalisado e rejulgado milhares de vezes. Pode estar pensando que você aprendeu na faculdade que o direito é “lento”, que no direito “é diferente”, que temos de seguir as “fórmulas” estabelecidas.
Na minha opinião, isso tudo é empáfia querendo se passar por erudição. O verdadeiro conhecimento é dinâmico, “ligado” no que acontece na realidade, interdisciplinar, variado, inclusivo, prático, empático e muda para melhor a vida das pessoas. Poucas áreas geram conteúdos tão importantes ao cotidiano das pessoas como o direito. Vivemos em uma sociedade “normatizada”, há uma lei ou regra para tudo, contudo, essas normas não são acessíveis à compreensão geral. Todo o processo legal torna-se hermético, desde a sua criação, interpretação e julgamento e apenas os doutos na lei são hábeis a compreender o direito, quando na verdade a lei deveria ser de conhecimento de todos.
De alguma forma, imagino que foi se consolidando um costume de quanto mais complicado fosse o sistema, seria criada uma reserva de mercado aos iniciados. Olha, pode até ser, mas não acredito em “negócios” que são feitos para privilegiar uns em detrimento de outros. O mundo está mudando, as coisas estão ficando mais “fáceis”, intuitivas e compreensivas em muitos aspectos. Não pagamos mais multa por não devolver um DVD na hora, o risco de pegar uma corrida de táxi que te enrola caiu muito e agora recebemos cashbacks em diversos aplicativos. O “mercado” entendeu que ser legal é melhor do que ser chato, ser fácil é melhor do que ser difícil, ser acessível é melhor do que criar barreiras.
Não se preocupe com as reservas de mercado de uma profissão que tem mais de 1.000.000,00, isso mesmo, mais de um milhão de pessoas habilitadas a exercê-la e outras tantas dezenas de milhares batendo à porta todos os meses. Preocupe-se em identificar os melhores caminhos, o seu “oceano azul” dentro da alta concorrência do mercado jurídico (“oceano vermelho”).
E como você pode fazer isso? Abrindo a cabeça para novas ideias. Quebrando paradigmas, assumindo um propósito transformador. Você pode seguir qualquer das carreiras clássicas como advogado, juiz, promotor, procurador, analista, parecerista, pesquisador, professor, etc e, ainda assim, manter um espírito inovador. Você pode ser um advogado que propõe uma forma diferente de analisar resultados processuais ou um juiz que sentencia de uma forma compreensível aos advogados, mas também às partes e testemunhas. Inovar não é apenas inventar o novo celular com 12 câmeras ou a nova rede social, é antes de tudo um estado de espírito, é acreditar todos os dias que é possível fazer algo diferente, seguir em frente.
Agora, você deve estar pensando: “Ok, até então, esse artigo está parecendo mais um textão de autoajuda, do tipo, você pode, você é capaz, tudo é lindo e maravilhoso”. Não, não é bem isso, mas de certa forma, sim, se você não começar por aí, acreditando que você pode, que você é capaz, dificilmente o que vier pela frente vai dar muito certo. A vida é difícil, encará-la com uma mentalidade negativa não irá facilitar as coisas. Mas, vamos lá. Daremos alguns passinhos mais reais agora nessa jornada. Vou enumerar abaixo 7 Iniciativas que você pode seguir para começar uma carreira jurídica transformadora:
1. Busque conteúdos de inovação jurídica, procure por termos como: legaltechs, lawtechs, jurimetria, legal design, visual law, automação de contratos, ciência de dados jurídica, BI (business intelligence jurídico). Fique por dentro do que já está rolando de novidade nesse mercado.
2. Relacione alguns desses conteúdos aos seus interesses pessoais, ou seja, o que é a sua cara. Cuidado aqui para não se perder nas ideias, é importante você observar em que ponto está a sua carreira, o que você está fazendo e aonde você quer ir. O seu horizonte de curto prazo é estudar para concurso, então, sem problema algum, nesse caso, não há atalho fácil, serão muitas e muitas horas do bom e velho estudo. Você trabalha em um escritório com contencioso de volume, que tal utilizar jurimetria para melhorar suas petições e criar habilidades de gestão através de dados? Você está se posicionando no mercado? Por que não aprende a mexer no canva?! Faz um curso de “Visual Law” e cria uma nova habilidade. Evite fazer tudo ao mesmo tempo, escolha um ou dois campos que mais te interessam e começa a moldar a sua experiência a partir daí.
3. Especialize-se! Encontrou o que você tem mais afinidade, agora, dá uma aprofundada no tema. A ideia é que você parte de entusiasta para especialista. A ideia aqui é que você gere uma habilidade adicional no seu currículo, mas não apenas dizer que você tem nível médio em inglês e conhecimento sobre o pacote office! Quero ver você dizer que é um Legal Designer, Visual Lawyer, Cientista de Dados Jurídicos, Gestor de Eficiência Jurídica etc.
4. Apareça. Crie uma rede de contatos. Já ouviu um ditado americano que diz “great minds think alike”, tradução livre: “mentes brilhantes pensam de forma parecida”. Existem outros como você, que também são curiosos, interessados e estão dispostos a trazer mais e melhores resultados através de processos e condutas inovadoras. Ache-os! Crie sua rede de contatos, faça parte de uma comunidade de cientistas de dados jurídicos, entre em um grupo de Visual Law, compartilhe e receba novidades. Seja um impulsionador do movimento.
5. Tenha experiência. Talvez um dos passos mais difíceis, mas também um dos mais importantes. Você vai precisar colocar em prática os novos conhecimentos que aprendeu. Não tem jeito, se ficar só no falatório você pode até acender uma chama no começo, mas ela tende a se apagar. Corra para desenvolver “casos práticos” das suas novas habilidades.
6. Compartilhe. Você está resolvendo problemas com alguma nova técnica que aprendeu. Conseguiu melhorar seus índices de acordo através de jurimetria aplicada. Teve uma economia no seu departamento através de decisões baseadas em evidências coletadas na sua gestão por dados? Criou uma apresentação para um cliente que foi um sucesso? Fez uma peça com visual law? Compartilhe o conhecimento. Demonstre para seu chefe, pares, colegas e clientes como você está alcançando mais e melhores resultados colocando em prática o que você aprendeu. Você vai começar a gerar uma autoridade sobre o assunto, a ser uma referência positiva e as pessoas lembrarão de vocês quando estiverem em busca de mentes criativas e capazes.
7. Não pare. Isso aqui é como andar de bicicleta, se parar de pedalar você vai cair. Siga em frente na busca por novos conhecimentos, saia um pouco do direito, faça uma pós em gestão financeira, cursos de marketing digital ou aulas sobre design, seja um ponto de interseção de conhecimentos.
Uma dica final, seja firme em seus propósitos. Nem todo mundo vai entender o que você está fazendo ou onde quer chegar. Não se preocupe. Siga em frente, pois você sabe e é isso que importa. Bem vindo a um novo universo jurídico.
Você pode inovar e muito na sua profissão.
Rui Caminha
Advogado, empreendedor digital, graduado pela Universidade de São Paulo, mestrando pela FGV-SP.
Fundador e CEO da Juristec+, Co-Fundador e Diretor do Villa | Visual Law Studio, professor de Visual Law, palestrante internacional com mais de 15 anos dedicados à inovação jurídica e pioneiro no desenvolvimento de tecnologias e soluções em jurimetria, ciência de dados jurídicos, IA aplicada ao direito, analytics e Visual Law.